O que mais interfere no ‘ecossistema político’, por assim dizer, brasileiro e mundial, é o impacto de noticiários da imprensa, fomentadas, essencialmente, por partidos da direita conservadora e da esquerda dita revolucionária, que são levantadas e divulgadas na rede (nacional e mundial) dos mass media, mas não são provadas judicialmente. Isso causa um impacto jamais visto, pois propaga questões de grande importância, como por exemplo, dossiês e cassações, no entanto, não se preocupam, mais tarde, em reconhecer a veracidade ou o acompanhamento e desfecho das questões tratadas. É um caso corriqueiro nos mass media, entretanto, não é de origem muito recente. Pretende-se que essa espécie de genealogia da propaganda, da desinformação e da ‘deleção sistemática’ em assuntos políticos, ligados primordialmente à intenção paranóica da direita reacionária frente ao avanço dos partidos de esquerda ‘revolucionários’[1] (de acepção mais popular no mundo todo, face ao desenvolvimento de países emergentes) seja traçada a partir das primeiras grandes guerras mundiais.
Uma das questões que atormentaram os pesquisadores das ciências humanas, filósofos e cientistas políticos da primeira metade do século XX, foi claramente desenvolvida por W. Reich: “como a população desejou o fascismo”? G. Deleuze e F. Guattari se preocuparam com essa proposição em suas duas grandes obras sobre o capitalismo e a esquizofrenia, principalmente em “O Anti-Édipo” e, menos intensamente, em “Mil Platôs”:
“É por isso que o problema fundamental da filosofia política é ainda aquele que Spinoza soube formular (e que Reich redescobriu): ‘Porque é que os homens combatem pela sua servidão como se se tratasse da sua salvação?’ Como é possível que se chegue a gritar: mais impostos! Menos pão! Como diz Reich, o que surpreende não é que uns roubem e outros façam greve, mas que os explorados e os esfomeados não estejam permanentemente em greve; porque é que há homens que suportam há tanto tempo a exploração, a humilhação, a escravatura, e que chegam ao ponto de as querer não só para os outros, mas também para si próprios? Nunca Reich mostrou ser um tão grande pensador como quando se recusa a invocar o desconhecimento ou a ilusão das massas ao explicar o fascismo, e exige uma explicação pelo desejo, em termos de desejo: não, as massas não foram enganadas, elas desejaram o fascismo num certo momento, em determinadas circunstâncias, e é isto que é necessário explicar, essa perversão do desejo gregário” (Deleuze e Guattari, s/d:33).
Quais foram os mecanismos, as técnicas e práticas usadas pelo nazi-fascimo que provocaram nas massas o desejo pela sua exploração? De que modo a propaganda fascista, comuns entre os líderes (Führer e Duce) para o controle da população, podem ter sido fundamentais para não só organizar as massas, mas para invocar nelas o desejo pelo fascismo?
Por um lado, toda essa problematização gira em torno essencialmente da técnica de propaganda. Apresenta-se a propaganda, com base na abordagem de H. Arendt, como parte do edifício do poder fascista e nazista ao longo das grandes guerras no século XX. Antes que os líderes das massas tomem o poder para fazer com que a realidade se ajuste às mentiras que proclamam, sua propaganda exibe extremo desprezo pelos fatos em si, pois, na sua opinião, os fatos dependem exclusivamente do poder do homem que os inventa: “os nazistas se utilizaram, no início, de propaganda anti-semita principalmente para assegurar um controle mais firme da população” (Arendt, 1989:391). Paul Virilio em “Guerra e Cinema” afirmou que a “propaganda é a arma favorita de Mussolini”[2].
[1] Reacionários ou paranóicos e revolucionários ou esquizofrênicos são termos utilizados na obra “O Anti-Édipo” de G. Deleuze e F. Guattari, Assírio e Alvim, edição portuguesa para designar os pólos da política suscetíveis ao delírio, que é para eles, universal.
[2] “Como temia Abel Ferry, já em 1914, o poder parlamentar havia desaparecido. “A Propaganda é a minha melhor arma!”, dizia Mussolini (Virilio, 2005:136).